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sábado, julho 02, 2011

ODE AO DOIS DE JULHO
Castro Alves


Era no Dous de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito ...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?! ...

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era tocha - o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma - o vasto chão!
Por palmas - o troar da artilharia!
Por feras - os canhões negros rugiam!
Por atletas - dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro - era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir - em frente do passado,
A liberdade - em frente à escravidão.
Era a luta das águias - e do abutre,
A revolta do pulso - contra os ferros,
O pugilato da razão - com os erros,
O duelo da treva - e do clarão! ...

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras - corno águias eriçadas -
"Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!

Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu - liberdade peregrina!
Esposa do porvir - noiva do Sol!...

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio - no infinito...
Um trapo de bandeira - n'amplidão!. ..

Castro Alves



O QUE REPRESENTA O 2 DE JULHO PARA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?
Mesmo após D.Pedro ter eternizado o grito do Ypiranga “Independência ou Morte” em 7 de setembro de 1822, a Bahia continuava sob o domínio da coroa portuguesa.
Mesmo após D.Pedro ter eternizado o grito do Ypiranga “Independência ou Morte” em 7 de setembro de 1822, a Bahia continuava sob o domínio da coroa portuguesa. Com a insatisfação do povo baiano, inicia-se o movimento libertário em Santo Amaro e em Cachoeira que era a cidade mais importante da região e até hoje seu parque arquitetônico guarda acervo considerável sobre este período da história. Antes que D. Pedro proclamasse o "grito do Ypiranga", a guerra pela independência do Brasil na Bahia já estava iniciada desde 25 de junho de 1822 na Vila de Nossa Senhora do Rosário da Cachoeira, hoje cidade de Cachoeira, sob o comando do coronel de milícias Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque de Ávila Pereira, posteriormente nomeado Visconde de Pirajá, que comandava as operações de guerra mesmo sem uma estrutura militar. Em julho de 1822 o coronel Joaquim Pires reuniu todo o armamento e tropa (formada por milicias e voluntários) que comandava no quartel do Engenho Novo de Pirajá e entregou ao comando do general francês Pedro Labatut enviado pelo governo do principe D.Pedro, que veio para organizar o exército e enfrentar as forças portuguêsas que eram comandadas por Madeira de Melo. Ao organizar seu exército Labatut constatou que o mesmo era composto por “brancos pobres, negros libertos, escravos enviados por seus senhores, voluntários” e ressaltou em documento encaminhado ao Ministro José Bonifácio que “nenhum filho de proprietário rico constava como voluntário”. Hoje a rua de maior movimento de comércio chama-se 8 de novembro. Por que esta data? A batalha começou na madrugada do dia 8 de novembro de 1822, quando 250 soldados portugueses que desembarcaram em Itacaranha atacando a área do Engenho do Cabrito, enquanto um outro grupo avançava por terra até Pirajá. A batalha durou 8 horas com um total de 4.000 homens e revelando-se na mais alta demonstração de resistência brasileira ao longo da luta pela independência. A vitória desta batalha guarda uma dúvida até hoje não esclarecida, pois atribui a uma falha do “Corneteiro Lopes” que não se sabe se intencionalmente ou não trocou o toque da corneta. A versão deve-se a Ladislau dos Santos Titara, encarregado de registrar em livros toda a correspondência do General Labatut, onde ele consta que o cabo-corneta Luís Lopes salvou o exército brasileiro com o toque de “avançar a cavallaria, e sucessivamente à degola”, ao contrário do toque de retirada que lhe havia sido ordenado pelo tenente-coronel Barros Falcão. É importante ressaltar que embora seja homenageado todos os anos, o general Labatut não participou da Batalha de Pirajá.

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